sexta-feira, 29 de março de 2013

Vygotsky? Freud? Skinner? Vocês por aqui???

PERGUNTA RÁPIDA: O que VygotskyFreud e Skinner têm em comum???


VygotskyFreud e Skinner

Como é que é??? O.o

QUE PEGADINHA É ESSA?!?!?


Não é pegadinha, não... estes três gigantes nomes da Psicologia, embora tenham suas divergências, possuem um ponto em comum que muito nos interessa:


OS 3 SÃO EVOLUCIONISTAS!


faaaaaaaaaaaaala sério!!!!!!!!!!!!
Tô falando sério!

Vygotsky, Freud e Skinner, podem não ter concordado em muita coisa. Podem ter escolhido diferentes caminhos filosóficos e científicos para conhecerem os mais diversos fenômenos psicológicos. NO ENTANTO, um ponto que é claro de se ver nas principais obras destes "GIGANTES DA PSICOLOGIA" é que eles nunca deixaram de lado que todos nós possuímos um histórico evolucionário e que conhecer mais sobre esta questão é imprescindível para se compreender melhor o ser humano.

Para os 3 autores, ainda que eles tenham dado nomes diferentes, quando interpretado ao pé da letra é possível notar que eles diziam algo como: todas as pessoas ao nascerem trazem consigo uma herança genética oriunda de um passado evolutivo. A este processo Vygotsky deu o nome de PLANO GENÉTICO e FILOGÊNESE, Freud chamou de ID e Skinner abordou a esta questão como um TIPO DE SELEÇÃO POR CONSEQUÊNCIAS (seleção filogenética).

Quando Vygotsky passou a explicar do que se tratava a ONTOGÊNESE e SÓCIOGÊNESE, Freud a falar sobre o EGO e SUPEREGO e Skinner a apresentar os demais TIPOS DE SELEÇÃO POR CONSEQUÊNCIAS (seleção ontogenética e seleção pelas práticas culturais), estes autores buscavam dar suas explicações sobre como os comportamentos, no ambiente atual, podem ser aperfeiçoadosaprendidos ou esquecidos (digamos assim). 

NESTE PONTO, É VÁLIDO DESTACAR que esses autores preocuparam-se em esclarecer que a cisão entre comportamentos provenientes do passado evolutivo e comportamentos a serem adquiridos ao longo de cada vida era meramente didática.

Em outras palavras: SIM temos um passado evolutivo e ele está embutido nos nossos genes... entretanto... eles não são imutáveis! Eles podem ser modulados de acordo com o "ambiente/contexto social" em que ele realiza suas interações!

Esta concepção demonstra um olhar muito interessante destes autores, pois mostra que eles também já tinham uma concepção clara da inexistência de dicotomias como "inato x aprendido", "genético x ambiental", "biologia x cultura", haja vista que seus olhares compreendiam uma percepção de que as duas possuem uma dada interação... 

...isto é, eles também estão aproximados a Vera Bussab e Fernando Ribeiro, quando estes defendem que nós, seres humanos, somos seres BIOLOGICAMENTE CULTURAIS!


Vygotsky, Freud e Skinner debatendo evolucionismo! hehehe

UM SALVE A VYGOTSKY, FREUD E SKINNER... a Psicologia agradece muito suas contribuições!!!



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Para esse post foram consultados os seguintes recursos:
- "Seleção por consequências" (Artigo escrito por B. F. Skinner em 1982 e traduzido para o português em 2007)

- "Psicanálise e Evolucionismo" (Vídeo-conferência realizada por Antonio Teixeira)
- "A proposta de Vygotsky: A Psicologia Sócio-Histórica" (Artigo escrito por Marcos Antonio Lucci, em 2006)
- "Biologicamente cultural" (Capítulo de livro escrito por Vera Bussab e Fernando Ribeiro, em 1998)

terça-feira, 12 de março de 2013

Luzia... uma brasileira de 11 mil anos!

Heeeeinnn??? Mas o Brasil não tem apenas 512 anos??? Como pode isso???

Pois é, pessoal... livros didáticos, costumam enfatizar a "descoberta do Brasil", acontecendo via Pedro Álvares Cabral, em meados do ano 1500!

Terraaaaaa à vistaaaa!!!!!!!!!!!!!
No entanto, esses mesmos livros contam que ao chegar naquela terra desconhecida, já haviam habitantes (que ganharam o nome de índios, haja vista que o objetivo da viagem era chegar na Índia).

Bom... algo está errado nisso tudo! Como posso dizer que foram os portugueses que descobriram nosso país, sendo que já haviam habitantes no local descoberto? Isto é, alguém já descobriu essas terras antes, não é mesmo?

Sem dúvidas! E isso é um assunto já bastante discutido entre historiadores, sociólogos, antropólogos, etc...
OK... MAS E O QUE A PSICOLOGIA EVOLUCIONISTA TEM A VER COM ISSO?

Donald Johanson e Lucy
(nome inspirado na música dos Beatles:
Lucy in the sky with diamonds)
Bom... a grosso modo pode parecer que não tem nada a ver! Mas é nessa hora que vale a pena considerar que a Psicologia Evolucionista é um campo de conhecimento que possui diálogo com outras fontes de conhecimento... no caso a ser destacado aqui, a conversa será por conta de campos como a ARQUEOLOGIA PALEONTOLOGIA.


Na década de 70, no Estado de Minas Gerais (mais precisamente na região de Lagoa Santa), foi encontrado (em meio a escavações) um crânio de aproximadamente 11mil anos de idade. Em alusão ao famosíssimo hominídeo "Lucy", descoberto na Etiópia pelo paleantropólogo Donald Johanson, o crânio descoberto em terras tupiniquins ganhou o nome de Luzia.

Uma série de acontecimentos fizeram de Luzia mais e mais famosa no meio científico. No entanto, seu ápice chegou, em meados dos anos 90, quando a BBC resolve financiar uma reconstrução craniofacial de Luzia, com o intuito de realizar um documentário sobre o povoamento das Américas, na pré-história.

Walter Neves

Outra questão que também elevou o nome de Luzia, diz respeito ao impacto causado pelas publicações do bioantropólogo Walter Neves. Em 1998, enquanto participava de um evento científico nos EUA, Neves propôs uma nova teoria para a ocupação do continente americano.

OPA... CALMA AÍ!!!

Nova teoria? Mas qual é a velha teoria então?



Pois então, sugere-se que os homo sapiens modernos saíram da Africa (seu local de origem) em torno de 40mil anos atrás. Várias foram as correntes migratórias, sendo uma delas para o sul da Ásia.


Aos poucos, os homo sapiens foram migrando em inúmeras localidades, até que, finalmente, uma parcela destes chegaram ao norte asiático. Desta localidade, tiveram condições de atravessar o Estreito de Behring e assim chegar na América.

A partir desta teoria, bem como de outras considerações, como as características morfológicas, por exemplo, compreende-se que a etnia dos indígenas seria proveniente dos asiáticos. No entanto, as características morfológicas de Luzia aproximam-se mais de aspectos encontrados em africanos, do que em indígenas.

Seria então, a América povoada, inicialmente, por africanos?

Bom, um fato a ser mencionado é que da leva de homo sapiens que saíram da Africa, alguns acabaram povoando o sudeste asiático, para em seguida partirem para a região australo-melanésica. Entende-se que esta leva de migrantes seriam então os ancestrais dos aborígenes australianos.

Crânio de Luzia
Walter Neves (e colaboradores) aponta que as características morfológicas de Luzia eram semelhantes a de outros fósseis de mesma idade, encontrados na Austrália, Melanésia e Africa. Este fator remonta que Luzia pertence a um estoque populacional humano que veio anteriormente aos humanos que conhecemos hoje, isto é, já tem características de homo sapiens moderno, mas é de uma linhagem que gerou as etnias atuais (caucasianos, negros, asiáticos, etc.).

Luzia seria então pertencente a uma leva de migrantes que teriam chego nas Américas bem antes dos asiáticos, que chegaram via Estreito de Behring, no extremo norte das Américas. A forma como a marcha de migrantes homo sapiens, da qual pertence Luzia, chegaram nas Américas é ainda muito discutida entre especialistas, no entanto, sua semelhança morfológica com os aborígenes australianos sugere que eles tenham vindo da Austrália.

Reconstituição da face de Luzia
Tanto a possibilidade das Américas terem sido migradas inicialmente por africanos, quanto a própria imagem gerada pela reconstituição de Luzia (apresentando sua coloração de pele sendo negra), encadearam uma série de debates midiáticos carregando a bandeira de nosso passado (enquanto brasileiros) ligado a ascendência negra. Em relação a isso, é válido mencionar que o próprio Walter Neves buscou ser cuidadoso ao expor o assunto alertando que embora seja muito provável que a pele dos homo sapiens africanos  seja negra (dado o clima quente da época, favorecendo a produção de mais melaninas), ainda não se sabe se de fato a cor da pele dos africanos eram negras ou se a cor surgiu depois.

No âmbito da Psicologia Evolucionista, o caso de Luzia torna-se instigante mediante a possibilidade de ela nos levar a caminhos que permitam melhor compreensão das raízes culturais americanas. Esta consideração reforça ainda mais a concepção inicial deste post, do quanto a Psicologia Evolucionista está plugada em outras áreas, para fazer as análises que lhe compete: os primórdios da cognição e comportamento humano.

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Para esse post foram consultadas as seguintes obras:
"O povo de Luzia: em busca dos primeiros africanos" (Autores: Walter Neves e Luis Piló)
- "A cor dos ossos: narrativas científicas e apropriações culturais sobre 'Luzia', um crânio pré-histórico do Brasil" (Autores: Verlan Neto e Ricardo Santos)

sábado, 13 de outubro de 2012

Conversando sobre bumbuns, ombros largos e evolucionismo

Olá pessoal!


Esta semana uma amiga me perguntou por que nós homens (heterossexuais) olhamos para o "bumbum" das mulheres quando estas passam por nós. Realmente, uma boa parcela dos homens olha para os atributos das mulheres, e os que não olham geralmente estão sob controle de estímulos

Bem que a seleção natural poderia
ter moldado nosso pescoço a girar assim
kkkk  pouparia torcicolos 
(tipo a namorada ao lado, risos).  


A mesma amiga me perguntou o porquê das mulheres olharem (geralmente) para as mãos dos homens em busca de algum anel que denote possível compromisso. Ambas as possibilidades (a do bumbum e a do anel) são concepções e representações repetidas pelo senso comum (não era a primeira vez que ouvia algo do tipo). Será que há algum embasamento para que alguns - ou a maioria dos - homens e mulheres tenham esse comportamento? Já ouviram que mulheres gostam de homens com ombros largos? Já ouviram dizer que homens gostam de mulheres que apresentem uma diferença entre quadril e cintura de 0,7 (no caso de quadril de 100cm, a cintura deveria ser de 70 cms; para quadril de 90 cms, uma cintura de 63cms)? Será que a Psicologia Evolucionista poderia nos ajudar nessa bomba dúvida?

Quanto ao BUMBUM: Há diversas compreensões que podem ser apreciadas para entendermos esta preferência - especialmente por parte dos brasileiros -, em relação aos atributos traseiros das mulheres: 


- Do ponto de vista filogenético, mulheres com gordura acumulada no bumbum seriam mais saudáveis que aquelas com gordura acumulada na cintura. O sucesso reprodutivo seria um ótimo reforçador para que machos procurassem fêmeas com essas "qualidades" físicas.



Oi melancia vc vem sempre aqui? rsrss
legal sua bola vermelha, me empresta
C:\Users\Tiago\Documents\
planilhas\gráficos chatos\re
latórios\pasta3\Ellen_Roche_
playboy
- Já no ponto de vista fisiológico, corroborando o ponto de vista filogenético, a gordura localizada no bumbum é usada para a geração do feto (essa é uma das explicações do motivo pelo qual a nádega feminina ser maior que a masculina). Portanto, desbundadas efetivamente, mulheres com bumbum menor não teriam tanto sucesso reprodutivo quanto às mulheres com bumbum maior. Num ambiente ancestral hostil, sem os atuais hospitais, remédios e conhecimento da pediatria, filhos fortes  nascidos de uma gestação saudável teriam maior possibilidade de sobreviver e continuar a perpetuar os genes (no caso, das bundudas).
- O ambiente cultural/social em que vivemos, ao menos aqui no Brasil, reforça a valorização do bumbum. Carnaval, praia, bikini, propagandas de cerveja, revistas masculinas e afins colocam o bumbum feminino num "pedestal". Sabendo que os homens possuem inclinação a escolher parceiras(os) - hetero ou homo - pela aparência (Legenbauer et al, 2009); um endeusamento do bumbum como um pré-requisito de beleza pode supervalorizar essa deliciosa parte do corpo feminino.


- Teorias de que os homens brancos na época da escravatura praticavam sexo anal com as escravas negras com o intuito de não engravidá-las também podem ajudar a explicar o apreço brasileiro pelo bumbum. Essa prática pode ter durado décadas ou até mesmo séculos, ajudando a perpetuar uma cultura de dominação do homem branco e livre contra a mulher escrava e submissa (que por acaso, não findou com término da escravatura, visto que os negros após a libertação pela Lei Áurea continuaram a viver às margens da sociedade...).

A interinfluência destes fatores supracitados podem trazer explicações plausíveis para o gosto masculino/brasileiro por BUNDAS!



Quanto a uma possível obsessão de algumas mulheres pelas mãos dos homens (no intuito de encontrar sinais de algum compromisso conjugal), acredito que possa estar ligada à história filogenética feminina de exclusividade sexual/emocional, comportamento este muito mais benéfico para as mulheres (visto que dividir a atenção do homem com outra[s] mulher[es] poderia ser altamente prejudicial à sobrevivência e criação dos filhos).  
Sabendo de uma maior inclinação masculina à infidelidade, envolver-se sentimental e sexualmente com um homem casado pode trazer uma grande dor de cabeça, acabando com planos de relacionamento estável, casamento, filhos e etc. Obviamente que nem todos os envolvimentos femininos, ainda mais na contemporaneidade, objetivam um relacionamento estável. Com a maior autonomia, devido à evolução social e aos métodos contraceptivos, muitas vezes é somente sexo que estas mulheres estão procurando mesmo.

[ATUALIZAÇÃO: o colaborador do Blog André Thieme fez um comentário muito pertinente neste post: No texto parece que o fato da mulher olhar para a mão de um homem - e encontrar um anel de compromisso - signifique, automaticamente, EXCLUSÃO (como se isso fosse o suficiente para a mulher não procurar o homem compromissado). E não é bem isso que vemos no cotidiano. Mesmo sabendo que o homem é compromissado, muitas mulheres procuram e mantêm relacionamento com ele. Essa tendência de algumas mulheres em ir atrás do homem casado pode estar ligada à possibilidade deste homem ter recursos para manter uma relação. Ter um compromisso sério com alguém pode ser um sinal de que há chances de manter outro compromisso sério novamente.]

Pô, Cadinho, tu não sossegas o faxo
mesmo né?  

Agora vamos à preferência de mulheres por homens com ombros largos. 

Sabe-se, até pelo senso comum, que há um dismorfismo - por vezes gritante - entre homens e mulheres:

estas são em média menores, mais leves, possuem músculos menos avantajados, etc;

aqueles são em média maiores, mais fortes, mais "musculosos", rápidos, etc. 

Se analisarmos nossa história filogenética e pensarmos na seleção sexual proposta por Darwin, homens fortes tinham muito mais chances de sobreviver 
no hostil cotidiano ancestral do que homens mais fracos. 

Assim, os fortões tinham um diferencial reprodutivo grande: conseguiram caçar mais e melhor; conseguiam proteger o grupo, a família, a mulher e os filhos dos rivais, de outros animais, etc.

Logo, ombros largos, característica peculiar de homens fortes, seria um "ornamento" procurado e desejado pelas fêmeas. Com sucesso reprodutivo maior, seus genes passariam para seus descendentes, que teriam maior sucesso reprodutivo. E o ciclo continuava...



"Ah Tiago, quanta baboseira! Eu sou mulher e nem gosto de homens fortes, com ombros largos" (sic). 




Vale salientar que essa análise filogenética não é determinista. Até porque devemos considerar a ontogenética: vivemos num outro tempo, com outro ambiente, outras demandas, outra cultura e, principalmente, com nossa história pessoal. Mas certas heranças ainda aparecem:


Pesquisa de Debruine, Jones, Crawford, Welling e Little (2010) fez uma ligação entre a SAÚDE DE UMA NAÇÃO e a preferência de mulheres por rostos masculinos.



Os traços do Mmmbop ba duba
dop, 
Ba du bop, ba duba dop faz
mais sucesso em países com
sistema de saúde eficiente


Mulheres que residiam em países desenvolvidos e com um Sistema de Saúde eficiente tinham preferência por homens com rostos mais delicados; Belgas e Escandinavas mostram maior interesse por esse tipo de homem. 






Se não bastasse o cara ser bonitão
ainda se chama "Rico" e o sobrenome
é "Mansur". Ah, me poupe
mulheres residentes em países em desenvolvimento - como o Brasil -, com sérios problemas com o sistema de saúde, de saneamento, riscos de contaminação, etc têm preferência por homens mais másculos, com traços mais "grosseiros" (leia-se homens com queixo largo, nariz grande, barba, forte, "cara de mau", etc). Mulheres argentinas, mexicanas e búlgaras também mostraram interesse por este tipo de homem tipo eu, envio foto de corpo inteiro em anexo




Vamos beber um pouco das fontes evolucionistas: mulheres que residem em países com problemas com seu sistema de saúde (ou seja, ambiente que pode ser perigoso, hostil) preferem homens que indiquem melhor saúde. Assim como as mulheres ancestrais, traços fortes e grosseiros podem indicar uma boa saúde e bons genes. Sem falar que mulheres de países em desenvolvimento, onde ocorre a maior parte dos problemas de saúde, possuem geralmente menor escolaridade e menos acesso ao trabalho, muitas vezes precisando de um homem provedor que dê conta dessas demandas para manutenção do lar (o que pode interferir na atração pelo sexo oposto). Estes homens (os ogros) também são os preferidos nas aventuras extra-conjugais em qualquer parte do globo (vide os michês, geralmente homens fortes, musculosos não que eu saiba um amigo meu me falou ).



Já nos países mais desenvolvidos - ao menos no seu sistema de saúde -  mulheres parecem procurar semelhantes - homens com traços mais "femininos"-, que sejam companheiros e ajudem a cuidar dos filhos. Mulheres destes países geralmente têm mais acesso ao estudo e ao mercado de trabalho, não necessitando de um homem provedor, cuidador ou afim (não quero dizer que um homem com traço mais delicado não possa exercer este papel, tampouco que um homem com traço mais grosseiro não possa ser companheiro e delicado). 



O Brasil, dentro de sua rica complexidade e multiculturalidade, pode - e deve - apresentar estes dois modelos (dentre outros mais) de preferência feminina. 


Talvez a região, nível sócioeconômico, cultural, dentre outros critérios possam explicar melhor algumas coisas. Acredito que o gosto de algumas mulheres por homens com ombros largos pode advir dessa herança filogenética que inclina a mulher a ter atração por homens fortes que proporcionem segurança.





Aproveito este finalzinho de post para falar sobre as quase sempre más expectativas sobre NOSSOS CORPOS. 



Pesquisas como as de Fallon e Rozin (1985) e de Swami et al (2010) indicam uma grande diferença entre percepção (principalmente feminina) de corpo real e ideal. Mulheres possuem uma tendência a imaginar que o CORPO ATUAL é discrepante (maior) do CORPO IDEALIZADO como atraente. E esse corpo considerado atraente é, por sua vez, considerado maior que o corpo IDEAL



Ou seja, há um grande saldo da auto-percepção atual para o corpo "ideal". O engraçado é que na pesquisa de Fallon e Rozin (1985) os homens declararam que o corpo feminino ideal é maior do que elas relataram que os homens achavam que seria.



Ou seja: os dados nos levam a crer que existe uma cobrança que está indo de encontro à preferência do sexo oposto. Parece-me que a mídia e as revistas femininas buscam uma forma de beleza - a magreza por vezes excessiva - que na verdade não é desejada. As incidências de anorexia e bulimia, maiores em mulheres, podem ser sintomas dessa "ditadura da magreza".



Outro estudo interessante (Oehlhof, Musher-Eizemann, Neufeld & Hauser, 2009) nenhum dos homens pesquisados queria ser "menos musculoso". Mas grande maioria desejava ter um corpo mais musculoso do que tinha no momento.




CONCLUSÃO:

Muito além de qualquer tipo de inclinação/preferência do outro sexo, vivemos num mundo em  constante mudança. Ou seja, preferências atuais podem não ser as mesmas daqui a alguns anos ou décadas.

Mulheres que não se encaixam num estereótipo de beleza dominante, peço que não se acanhem: muitos homens também buscam características que ultrapassam uma bunda de "mulher fruta". O mesmo recado vale para o homem que não possui as características físicas socialmente desejadas pelas mulheres (como os ombros largos).

Homens podem gostar de magrinhas, gordinhas, medianas, loiras, negras, ruivas...
Mulheres podem gostar de barrigudos, sarados, baixinhos, altos, carequinhas (assim espero)...

Que tal investirmos em nossas características próprias e aceitarmos nossas peculiaridades ao invés de sofrermos sendo quem não somos? A auto-confiança também é um fator que pode ser atraente pra muita gente. Se não para todos. 



Para saber mais:

http://olharbeheca.blogspot.com.br/2010/02/analise-do-dia-bunda.html

Fallon, A. E.; Rozin, P. (1985). Sex differences in perceptions of desirable body shape. Journal of Abnormal Psychology, 94 (1), 102-105.

Swami, V. et al. (2010). The attractive female body weight and female body dissatisfaction in 26 countries across 10 world regions: results os the internacional body project I. Personality and Social Bulletin, 36 (3), 309-325.

Oehlhof, M. E. W.; Musher-Eizemann, D. R.; Neufeld, J. M.; Hauser, J. C. (2009). Self-objectification and ideal body shape for men and women. Body Image, 6, 308-310.

Legenbauer, T.; et al. (2009). Preference for attractiveness and thinness in a partner: Influence of internalization of the thin ideal and shape/weight dissatisfaction in heterosexual women, heterosexual men, lesbians, and gay men. Body Image, 6, 228-234.

DeBruine, L. M.; Jones, B. C.; Crawford, J. R.; Welling, L. L. M.; Little, A. C. (2009). The health of a nation predicts their mate preferences: cross-cultural variation in women’s preferences for masculinized male faces. Proceedings of the Royal Society, 2010.




sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Vamu brincáááááá?????

Vamuuuuu!!!!!!!!! \o/

Ahhhh... a infância! 


Etapa da vida marcada por inúmeros estresses devido a pesadelos baseados em contos macabros (muahahahahaha), pela ansiedade de que seja servido logo o almoço e então ter a permissão de sair na rua jogar aquele futebol maroto com os parceiros da vizinhança, pela depressão em ver aquele seu carrinho com a roda quebrada e receber um não de seus pais ao solicitar por um novo... Eta vida difícil!!!

Afff... que tédio, viu!!!

Esperaaaaa... eu tava só BRINCANDO, viu!!!


Deixe-me explicar... De fato, a infância envolve tais considerações que mencionei acima. Mas claro, não que isso mereça uma atenção para cuidado e acompanhamento profissional! Desde que NÃO sejam condições que afetam o desempenho social, que NÃO causam danos pessoais e/ou que NÃO persistam ou agravem por um período significativo (em torno de 6 meses, mais ou menos)... elas fazem parte do desenvolvimento do infante e exercem muita importância para sua maturação!

Pois bem... antes de continuarmos nossa conversa, gostaria que olhassem ao seguinte vídeo, que mostra um rápido trailer de um belíssimo documentário que acompanha o primeiro ano de vida de quatro crianças de diferentes culturas:


Ainda que acompanhar apenas o trailer não substitua a importância de assistir o documentário como um todo, já dá para ter uma breve noção de que as 4 crianças estão expostas às mais diferentes contingências - demarcadas pela sua limitação física, cultural e social. Estas condições ontogenéticas implicarão em adultos com diferentes habilidades... EIS O PODER DA INTERAÇÃO ORGANISMO-AMBIENTE!

Porém, outro ponto que é possível observar no trailer - e mais ainda no documentário - é um comportamento que, independentemente da cultura, está presente, sobretudo, no repertório infantil: O BRINCAR!!!

Ainda que a vida na sociedade urbana permita que a criança tenha acesso a brinquedos mais sofisticados, logo no início do trailer é possível ver duas crianças, pertencentes a uma tribo africana, moradora de uma longínqua aldeia, brincando com pedaços de madeira e plástico. Além do mais, o comportamento de brincar não exige necessariamente a utilização de um instrumento, como também pode estar envolvido a simulação de uma situação (faz-de-conta) ou, então, a imitação de movimentos.

Indo mais longe do que o vídeo pode elucidar, é possível destacar que o comportamento de brincar também é passível de observação em vários outros filhotes de mamíferos.

Estas informações fortalecem a compreensão de que há, no "brincar" uma raiz evolucionista.

No que tange a relação entre causas próximas e causas últimas, o comportamento de brincar possui um complexo nível de análise, haja vista que é algo pertinente à filogenia mas que encontra sua expressão na ontogenia.

GABRIEL, PAAAAAARE DE FICAR COMPLICANDO!!!

Calma... vou explicar! (oh gente estressada, viu!)

Trocando as palavras, o brincar em si é uma condição presente em todas as crianças no mundo inteiro. As formas de brincar vão depender muito das condições ambientais, isto é, das práticas culturais daquele lugar, bem como as disponibilidades de recursos ali presentes (ontogenia). 

Tudo isso, ao longo da evolução dos mamíferos - sobretudo em nossa linhagem primata - desempenhou um importante papel na evolução, haja vista que por meio da brincadeira o infante ensaia movimentos, simula situações, molda habilidades e resolve problemas, preparando assim um repertório de comportamentos a ser utilizado na vida adulta, auxiliando na identificação de situações de perigo e no enfrentamento de dificuldades (filogenia).

Melhor agora?

Siiiiiiiiiiimmmmmm!!!!!! =D

Ah... que bom!!!

E para que saiba um pouquinho mais sobre o assunto, é válido mencionar que diversas pesquisas demonstram que há diferenças de gênero no comportamento de brincar. Isto é, meninos e meninas costumam ter preferencias distintas quando vão brincar. Elas tendem a enfatizar brincadeiras de cooperação entre companheiros e preferem brincar em grupos pequenos, enquanto eles buscam mais brincadeiras que estabelecem hierarquias e interagem com mais facilidade em grupos maiores.

No faz-de-conta, o tema preferido dos meninos sempre recorre a questões fantásticas e que explorem o vigor físico (como lutas ou encenando um super-herói) em detrimento das meninas que exploram histórias de modo mais sofisticado e cheio de detalhes, como temas dramáticos ou domésticos.

Esta dimensão, ainda que tenha todo um incentivo social que reforçam esteriótipos de o que é coisa de menino e de menina, pode também estar dando pistas acerca da concepção do que espera-se que tais gêneros desempenhem na vida adulta, dada as características necessárias para o convívio adulto de homens e mulheres e seu papel na organização social ao longo da evolução.

Além do mais, brincar é muito divertido, auxilia no desenvolvimento psicomotor, psicossocial e psicoafetivo, contribui para a saúde, para um melhor desempenho cognitivo... enfim, BRINCAR É TUDO DE BOM!!!

E para finalizar, vou deixar aqui meu feliz dia das crianças PARA TODOS NÓS!!! 

Isso mesmo, TODOS NÓS!!! Mas se você acha que já não se enquadra mais dentre as pessoas cujo felicitei com meus votos, SUGIRO UMA RÁPIDA AUDIÇÃO DA SEGUINTE MÚSICA:





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Pessoal, para esse post utilizei-me de informações (artigos) disponibilizados pelo site do NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM DESENVOLVIMENTO INFANTIL (NEPeDI)
Recomendo que visitem o site (clicando no link acima), caso queiram se aprofundar mais no assunto.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Arrependimento nas relações casuais e nos relacionamentos de longo prazo: diferenças de gênero

Olá pessoal! Este é meu primeiro post no Blog, depois do convite do ilustre amigo Gabriel para me juntar ao time de entusiastas da Psicologia Evolucionista aqui presente. Da mesma forma que tem sido feito aqui no Blog, pretendo dar continuidade ao caráter leve e bem humorado (estilo #cqc #praçaenossa #zorratotal) de debater os mais diversos assuntos sob a ótica evolucionista.

Para iniciar, sabendo do meu interesse por relacionamentos claro, depois de ter levado tanto pé na bunda, resolvi escrever um pouco sobre os arrependimentos que homens e mulheres sentem nas suas relações casuais e nos relacionamentos de longo prazo, inclusive citando um estudo americano em que algumas características/atributos do(a) parceiro(a) também foram levantados.

Arrependemos-nos de muitas coisas em nossas vidas: de não ter visto um parente antes de sua morte (do parente, claro); de ter escolhido o curso errado na faculdade; de não ter feito tratamento para calvície (caso real); de ter se envolvido sexualmente com uma ninfomaníaca ainda não perdi as esperanças, etc. Estes arrependimentos vêm, geralmente, acompanhados de culpa, frustração, sentimento de impotência, raiva... E, aparentemente, estes arrependimentos pioram quando falamos em relacionamentos amorosos, devido à alta carga energética que investimos nas relações. Mas será que existem diferenças entre os arrependimentos de homens e mulheres no mundo ingrato do amor?

Este é um belo exemplo de arrependimento de ação e inação:
de ação por ter feito esse álbum e de inação por não ter ido
ao cabeleireiro antes dessa foto
Aparentemente: Sim. Estudos de Roese et al (2006) indicam que homens tendem a ter mais arrependimentos de inação (irei chamar de arrependimento de INAÇÃO aquele que a pessoa se arrepende de NÃO TER FEITO determinada coisa; enquanto que o arrependimento de AÇÃO é aquele que a pessoa se arrepende de TER FEITO determinada coisa) em relacionamentos de longo prazo do que arrependimentos de ação; enquanto que as mulheres tendem a ter os dois tipos de arrependimentos (de ação e inação).  


Já nos relacionamentos sexuais casuais, há diferenças mais extremas entre os arrependimentos de homens e mulheres: aqueles sentem mais arrependimentos de inação (arrependimento de não terem feito sexo com uma mulher), enquanto estas sentem mais arrependimentos de ação (por terem feito sexo com um homem). Os homens podem sentir mais arrependimento de não terem feito relação casual com uma mulher porque “essa é a função do homem” ou “não faço mais do que minha obrigação”, e se a mulher for bonita, ouve-se o “o que eu poderia fazer? Negar sexo pra aquela gata?”. Já para mulher, fazer sexo casual pode ser frustrante para sua reputação com outros homens; ou ainda fizeram sexo por serem mais frágeis fisicamente ou por terem caído no “conto do vigário”, causando arrependimentos.

Para tentar entender um pouco mais destes fenômenos, vamos beber um pouco da fonte das teorias de estratégias sexuais, que apontam diferenças entre homens e mulheres na escolha e manutenção de parceiros:

- Diferenças de gênero no investimento parental: Enquanto as mulheres ao longo da história evolucionária humana tiveram que suportar os bebês por 9 meses, alimentá-los e cuidá-los, para os homens coube o papel de “gozar” e, no máximo, sair em busca de recursos (como alimentos) para os “pequerruchos”;

- Diferenças de gênero na quantidade de parceiros sexuais: Para o homem ancestral ter múltiplas parceiras sexuais significava um grande sucesso reprodutivo, pois se fizesse sexo com 10 mulheres poderia significar 10 filhos num período de 9 meses, garantindo assim o aumento de sua prole. Já para a mulher ter 10 parceiros sexuais não significava um maior sucesso reprodutivo, pois por mais que fizesse sexo com todos os parceiros, sua prole continuava sendo de 1 filho em 9 meses. Ou seja, não há benefício algum em manter tantos parceiros, muito mais benéfico ter um (ou poucos), mas que possam contribuir na criação do filho;

Este é um belo filme para quem quiser conhecer mais
profundamente (rs) as estratégias sexuais do homem ancestral.
- Diferenças no desejo sexual: Pesquisadores como David P. Schmitt (e 188 colaboradores, 2003) procuraram conhecer as estratégias sexuais por meio de uma pesquisa com 16 mil pessoas (entre homens e mulheres) de 52 nações do planeta, representando os 6 continentes, incluindo 13 ilhas.  Este estudo indicou que os homens têm propensão a TER, BUSCAR, ou DESEJAR mais parceiros sexuais do que as mulheres. 

Aí podemos imaginar o porquê dos homens sentirem tanto arrependimento de inação quanto aos relacionamentos sexuais casuais... E as mulheres de terem arrependimentos de ação nos relacionamentos de curto prazo. O período fértil feminino é curto (hoje, até por volta dos 40 anos), então não se pode “perder tempo” com homens que buscam sexo e nada mais. Desde a invenção dos métodos contraceptivos, no entanto, a mulher tem mais liberdade para desfrutar o sexo casual sem ter uma gravidez indesejada. Sem este “ônus”, é provável que haja com o passar do tempo uma menor diferença entre os sexos no que tange o desejo por sexo casual.  

Eike Batista, no mundo ancestral, faria um enorme sucesso
 entre as mulheres devido aos recursos que ele poderia
disponibilizar (Eike: se ler isso me adote).
Para engrossar mais o caldo do mundo dos arrependimentos amorosos, Susan Coats et al (2012) verificaram com estudantes universitários quais eram as características dos parceiros com os quais tiveram arrependimentos de ação e inação. Confirmando as hipóteses iniciais do estudo, os homens se sentiram mais arrependidos tanto por terem quanto por não terem se envolvido com mulheres atraentes (arrependimento de ação e inação, seja em relacionamentos casuais ou de longo prazo). Em contraste, as mulheres tiveram arrependimentos de ação em relacionamentos de longo prazo com homens avarentos; nos arrependimentos de inação, citaram que os parceiros tinham bons recursos financeiros. Nos relacionamentos casuais, não houve uma característica peculiar do parceiro nos arrependimentos.

Estes dados sugerem que a herança de nossos ancestrais influi de alguma maneira sobre o comportamento da pessoa contemporânea, seja homem ou mulher. O homem ancestral que não se esforçou em copular com mulheres saudáveis e atraentes provavelmente não passou seus genes “pra frente”. Já mulheres que não se envolveram com homens com bons recursos, não conseguiram ter tanto sucesso reprodutivo. Ao contrário, mulheres que fizeram sexo casual com homens descompromissados provavelmente se arrependeram quando se viram sozinhas, cheias de filhos pra criar e sem suporte. 

Arrependimento, embora seja uma situação desagradável, tem uma função: motiva as pessoas a corrigir os erros de suas ações. Estes achados podem indicar a “adaptação do arrependimento”, que ajuda homens e mulheres a buscar/evitar potenciais parceiros de curto ou longo prazo, de acordo com quem é ou tenha sido reprodutivamente mais benéfico.


Para saber mais:

COATS, S.; HARRINGTON, J. T.; BEAUBOUEF, M.; LOCKE, H. Sex Differences in relantionships regret: the role of perceived mate characteristics. Evolutionary Psychology, v. 10, n. 3, p. 422-442, 2012.

ROESE, N. J.; PENNINGTON, G. L.; COLEMAN, J.; JANICKI, M.; LI, N. P.; KENRICK, D. T. Sex differences in regret: All for love or some for lust? Personality and Social Psychology Bulletin, v. 32, p. 770-780, 2006.

SCHIMITT, D. P ; et al. Universal sex differences in the desire for sexual variety: tests from 52 nations, 6 continents, and 13 islands. Journal of personality and social psychology, v. 85, n. 1, p. 85-104, 2003. 

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Um brinde à amizade!

"Amizade é um amor que nunca acaba" (Mario Quintana)

Como é bom ter amigos, não é? 

Ter aquele(s) parceiro(s) que tanto acalenta(m) as dores em momentos difíceis quanto transforma(m) situações que poderiam passar despercebidas em instantes únicos e inesquecíveis.

Michel Foucault
(15/10/1926 - 25/06/1984)
O filósofo francês Michel Foucault via na amizade uma forma de reinventar a vida e superar criativamente as relações de dominação entre as pessoas.

Com efeito, em tempos de crise, amigos possuem um enorme potencial para diminuir efeitos do estresse, melhorar o humor e auto-estima, bem como favorecer em estratégias de resolução de problemas.

Além do mais, rotineiramente são divulgados estudos demonstrando o quanto vínculos de amizade estão atrelados à saúde, bem-estar e prolongamento da vida.

ENFIM... NADA COMO UM BOM AMIGO, NÃO É???

Em contraponto, presenciamos atualmente um tempo cujo convite à solidão e individualismo estão incrivelmente mais atraentes. O livro é de AUTO-AJUDA, o restaurante é SELF-SERVICE, e por aí se vai numa infinidade de outros exemplos que reforçam mais e mais a ideia estadunidense de SELF-MADE MAN!

Porém, longe de estar criticando os benefícios deste modo de vida (que contribuem muito em aspectos como a autonomia, inclusive) reconhece-se também o quanto a sociedade vem se modificando bastante, a ponto de se reelaborar formas de pensar o que é família, repaginar os modos de convívio social e do quanto os laços de amizade contribuem para um relacionamento amoroso mais saudável.

FRIENDS, série cuja trama se desenrolava em torno de um grupo de amigos que, desastres a parte, forneciam um ótimo apoio social nas dificuldades dos componentes do grupo.

Trazendo a conversa pro campo da etologia, estudos com primatas demonstram que a maioria deles também costumam se organizar em grupos, com mais de três adultos.

Na maioria das espécies animais, em situações de conflito, quem vence é o maior, mais forte ou o que possui algum atributo físico que lhe forneça vantagem na batalha.

Em contrapartida, primatas contam não só com seus atributos físicos, como também com suas estratégias sociais. No caso, há um maior investimento, por parte dos primatas, na construção de alianças, favorecendo que membros, com porte físico inferior ao adversário, possam triunfar (haja vista o auxílio dos aliados presentes).

Um outro componente importante, vincula-se a questão de que indivíduos com mais habilidades para a formação e manutenção de alianças, costumam ter também maior sucesso reprodutivo.

Estas informações fornecem interessantes pistas para um rastreamento do nosso passado ancestral, no que diz respeito a amizade e organização social. Haja vista os registros fósseis indicando que a vida em comunidade já era uma realidade para nossos ancestrais. 

A formação de vínculos grupais para o auxílio na caça e proteção, pode requerer um cérebro com capacidades de prever o comportamento alheio e, também, contribuir para que o próprio comportamento não seja previsível (olha o início do comportamento de malandragem aí! HAHAHA).

Dado o fato de que ficar sozinho e longe do acampamento poderia refletir em um grande risco, uma vez que a estrutura física da maioria dos primatas, inclusive a nossa, não seja lá grande coisa, sugere-se que todos nós (Homo-sapiens) sejamos descendentes, primordialmente, daqueles que sabiam trabalhar em grupo (haja vista o baixo sucesso reprodutivo dos que optavam por ficarem sozinhos).

Este raciocínio ganha mais força quando registros fósseis denunciam o fato da expansão do cérebro coincidir com a época em que, o gênero Homo, passou a habitar predominantemente campos abertos e construir ferramentas. 

Neste ponto é válido ressaltar o quanto a capacidade de produzir instrumentos de auxílio (ferramentas) incide em um alto grau de desenvolvimento cerebral, levando-se em conta que para produzir uma ferramenta, faz-se necessário que se tenha capacidades de planejamentos e raciocínios a longo prazo, para que se possa projetar um material que seja eficaz.

ALTRUÍSMO RECÍPROCO vs EMPATIA

Em 1971, Robert Trivers postulou uma controversa teoria, da qual ele chamou de "Altruísmo recíproco". Segundo ele, os animais, longe de serem solidários e cooperativos, agem de modo egoísta e os custos dos favores prestados devem ser recompensados.

No reino animal como um todo, existem cooperações com não-parentes, porém elas acontecem mediante pagamentos imediatos. Já no caso dos seres humanos, por terem passado por esse histórico ancestral (destacados anteriormente), o desenvolvimento de funções cognitivas mais refinadas permite que haja uma maior negociação a longo prazo, havendo a possibilidade de que o favor seja pago mais pro futuro.

Esta capacidade do ser humano, permite-o lembrar e avaliar aqueles que merecem continuar recebendo favores. Para os que não retribuem, acontece um processo cujo relacionamento sofre uma ruptura (deixa-se de oferecer benefícios ao trapaceiro).

Em oposição a esta ideia, Frans de Waal acredita na capacidade de solidariedade dos animais, sobretudo na dos humanos, mediadas pela capacidade empática. Conforme já comentei aqui (em um post sobre empatia), é possível encontrar casos de pessoas que chegam a arriscar a própria vida para salvar a de outros, ou então de pessoas doando anonimamente utensílios ou dinheiro, para pessoas que não conhece e que provavelmente não terá nenhum outro contato no futuro. Condições estas que tornam a hipótese do "altruísmo recíproco" insustentáveis. Além do mais, Frans de Waal já encontrou exemplos de solidariedade, altruísmo, senso de justiça e cooperação em outros primatas, elefantes e golfinhos.

Assim, para entender como a amizade foi possível, atribui-se a possibilidade de ser uma espécie de sub-produto da evolução da cooperação entre indivíduos da mesma família.

Falando de outra maneira, aceleradas modificações no ambiente podem ter sido rápidas a ponto de que nossos comportamentos não conseguiram tempo suficiente para se adaptarQuando os comportamentos de amizade foram se estabelecendo, ao longo da evolução, as comunidades mal possuíam 100 pessoas, sendo grande parte destas, aparentados.

Para isto, lembremos que parentes (familiares) possuem nossos genes, então é maior a probabilidade de providenciarmos benefícios a estes. As sociedades foram crescendo, crescendo, crescendo, até que começou a dificultar na identificação de quem era parente ou não. Os indivíduos não parentes, de certa maneira passaram a substituir os familiares.

Agora, soma-se a isso, nossa capacidade de empatia. Pronto... chegamos ao que conhecemos hoje por essa forma de relação, que aconteceu meio que por acidente, mas que mesmo assim é tão boa.

FELIZ DIA DO AMIGO!!!

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Para esse post foram consultados textos dos livros:
- "O gene egoísta" (Autor: Richard Dawkins)
"Fundamentos de Psicologia: Psicologia Evolucionista" (Organizado por: Emma Otta e Maria Emilia Yamamoto)
- "A era da empatia: lições da natureza para uma sociedade mais gentil" (Autor: Frans de Waal)