sábado, 13 de outubro de 2012

Conversando sobre bumbuns, ombros largos e evolucionismo

Olá pessoal!


Esta semana uma amiga me perguntou por que nós homens (heterossexuais) olhamos para o "bumbum" das mulheres quando estas passam por nós. Realmente, uma boa parcela dos homens olha para os atributos das mulheres, e os que não olham geralmente estão sob controle de estímulos

Bem que a seleção natural poderia
ter moldado nosso pescoço a girar assim
kkkk  pouparia torcicolos 
(tipo a namorada ao lado, risos).  


A mesma amiga me perguntou o porquê das mulheres olharem (geralmente) para as mãos dos homens em busca de algum anel que denote possível compromisso. Ambas as possibilidades (a do bumbum e a do anel) são concepções e representações repetidas pelo senso comum (não era a primeira vez que ouvia algo do tipo). Será que há algum embasamento para que alguns - ou a maioria dos - homens e mulheres tenham esse comportamento? Já ouviram que mulheres gostam de homens com ombros largos? Já ouviram dizer que homens gostam de mulheres que apresentem uma diferença entre quadril e cintura de 0,7 (no caso de quadril de 100cm, a cintura deveria ser de 70 cms; para quadril de 90 cms, uma cintura de 63cms)? Será que a Psicologia Evolucionista poderia nos ajudar nessa bomba dúvida?

Quanto ao BUMBUM: Há diversas compreensões que podem ser apreciadas para entendermos esta preferência - especialmente por parte dos brasileiros -, em relação aos atributos traseiros das mulheres: 


- Do ponto de vista filogenético, mulheres com gordura acumulada no bumbum seriam mais saudáveis que aquelas com gordura acumulada na cintura. O sucesso reprodutivo seria um ótimo reforçador para que machos procurassem fêmeas com essas "qualidades" físicas.



Oi melancia vc vem sempre aqui? rsrss
legal sua bola vermelha, me empresta
C:\Users\Tiago\Documents\
planilhas\gráficos chatos\re
latórios\pasta3\Ellen_Roche_
playboy
- Já no ponto de vista fisiológico, corroborando o ponto de vista filogenético, a gordura localizada no bumbum é usada para a geração do feto (essa é uma das explicações do motivo pelo qual a nádega feminina ser maior que a masculina). Portanto, desbundadas efetivamente, mulheres com bumbum menor não teriam tanto sucesso reprodutivo quanto às mulheres com bumbum maior. Num ambiente ancestral hostil, sem os atuais hospitais, remédios e conhecimento da pediatria, filhos fortes  nascidos de uma gestação saudável teriam maior possibilidade de sobreviver e continuar a perpetuar os genes (no caso, das bundudas).
- O ambiente cultural/social em que vivemos, ao menos aqui no Brasil, reforça a valorização do bumbum. Carnaval, praia, bikini, propagandas de cerveja, revistas masculinas e afins colocam o bumbum feminino num "pedestal". Sabendo que os homens possuem inclinação a escolher parceiras(os) - hetero ou homo - pela aparência (Legenbauer et al, 2009); um endeusamento do bumbum como um pré-requisito de beleza pode supervalorizar essa deliciosa parte do corpo feminino.


- Teorias de que os homens brancos na época da escravatura praticavam sexo anal com as escravas negras com o intuito de não engravidá-las também podem ajudar a explicar o apreço brasileiro pelo bumbum. Essa prática pode ter durado décadas ou até mesmo séculos, ajudando a perpetuar uma cultura de dominação do homem branco e livre contra a mulher escrava e submissa (que por acaso, não findou com término da escravatura, visto que os negros após a libertação pela Lei Áurea continuaram a viver às margens da sociedade...).

A interinfluência destes fatores supracitados podem trazer explicações plausíveis para o gosto masculino/brasileiro por BUNDAS!



Quanto a uma possível obsessão de algumas mulheres pelas mãos dos homens (no intuito de encontrar sinais de algum compromisso conjugal), acredito que possa estar ligada à história filogenética feminina de exclusividade sexual/emocional, comportamento este muito mais benéfico para as mulheres (visto que dividir a atenção do homem com outra[s] mulher[es] poderia ser altamente prejudicial à sobrevivência e criação dos filhos).  
Sabendo de uma maior inclinação masculina à infidelidade, envolver-se sentimental e sexualmente com um homem casado pode trazer uma grande dor de cabeça, acabando com planos de relacionamento estável, casamento, filhos e etc. Obviamente que nem todos os envolvimentos femininos, ainda mais na contemporaneidade, objetivam um relacionamento estável. Com a maior autonomia, devido à evolução social e aos métodos contraceptivos, muitas vezes é somente sexo que estas mulheres estão procurando mesmo.

[ATUALIZAÇÃO: o colaborador do Blog André Thieme fez um comentário muito pertinente neste post: No texto parece que o fato da mulher olhar para a mão de um homem - e encontrar um anel de compromisso - signifique, automaticamente, EXCLUSÃO (como se isso fosse o suficiente para a mulher não procurar o homem compromissado). E não é bem isso que vemos no cotidiano. Mesmo sabendo que o homem é compromissado, muitas mulheres procuram e mantêm relacionamento com ele. Essa tendência de algumas mulheres em ir atrás do homem casado pode estar ligada à possibilidade deste homem ter recursos para manter uma relação. Ter um compromisso sério com alguém pode ser um sinal de que há chances de manter outro compromisso sério novamente.]

Pô, Cadinho, tu não sossegas o faxo
mesmo né?  

Agora vamos à preferência de mulheres por homens com ombros largos. 

Sabe-se, até pelo senso comum, que há um dismorfismo - por vezes gritante - entre homens e mulheres:

estas são em média menores, mais leves, possuem músculos menos avantajados, etc;

aqueles são em média maiores, mais fortes, mais "musculosos", rápidos, etc. 

Se analisarmos nossa história filogenética e pensarmos na seleção sexual proposta por Darwin, homens fortes tinham muito mais chances de sobreviver 
no hostil cotidiano ancestral do que homens mais fracos. 

Assim, os fortões tinham um diferencial reprodutivo grande: conseguiram caçar mais e melhor; conseguiam proteger o grupo, a família, a mulher e os filhos dos rivais, de outros animais, etc.

Logo, ombros largos, característica peculiar de homens fortes, seria um "ornamento" procurado e desejado pelas fêmeas. Com sucesso reprodutivo maior, seus genes passariam para seus descendentes, que teriam maior sucesso reprodutivo. E o ciclo continuava...



"Ah Tiago, quanta baboseira! Eu sou mulher e nem gosto de homens fortes, com ombros largos" (sic). 




Vale salientar que essa análise filogenética não é determinista. Até porque devemos considerar a ontogenética: vivemos num outro tempo, com outro ambiente, outras demandas, outra cultura e, principalmente, com nossa história pessoal. Mas certas heranças ainda aparecem:


Pesquisa de Debruine, Jones, Crawford, Welling e Little (2010) fez uma ligação entre a SAÚDE DE UMA NAÇÃO e a preferência de mulheres por rostos masculinos.



Os traços do Mmmbop ba duba
dop, 
Ba du bop, ba duba dop faz
mais sucesso em países com
sistema de saúde eficiente


Mulheres que residiam em países desenvolvidos e com um Sistema de Saúde eficiente tinham preferência por homens com rostos mais delicados; Belgas e Escandinavas mostram maior interesse por esse tipo de homem. 






Se não bastasse o cara ser bonitão
ainda se chama "Rico" e o sobrenome
é "Mansur". Ah, me poupe
mulheres residentes em países em desenvolvimento - como o Brasil -, com sérios problemas com o sistema de saúde, de saneamento, riscos de contaminação, etc têm preferência por homens mais másculos, com traços mais "grosseiros" (leia-se homens com queixo largo, nariz grande, barba, forte, "cara de mau", etc). Mulheres argentinas, mexicanas e búlgaras também mostraram interesse por este tipo de homem tipo eu, envio foto de corpo inteiro em anexo




Vamos beber um pouco das fontes evolucionistas: mulheres que residem em países com problemas com seu sistema de saúde (ou seja, ambiente que pode ser perigoso, hostil) preferem homens que indiquem melhor saúde. Assim como as mulheres ancestrais, traços fortes e grosseiros podem indicar uma boa saúde e bons genes. Sem falar que mulheres de países em desenvolvimento, onde ocorre a maior parte dos problemas de saúde, possuem geralmente menor escolaridade e menos acesso ao trabalho, muitas vezes precisando de um homem provedor que dê conta dessas demandas para manutenção do lar (o que pode interferir na atração pelo sexo oposto). Estes homens (os ogros) também são os preferidos nas aventuras extra-conjugais em qualquer parte do globo (vide os michês, geralmente homens fortes, musculosos não que eu saiba um amigo meu me falou ).



Já nos países mais desenvolvidos - ao menos no seu sistema de saúde -  mulheres parecem procurar semelhantes - homens com traços mais "femininos"-, que sejam companheiros e ajudem a cuidar dos filhos. Mulheres destes países geralmente têm mais acesso ao estudo e ao mercado de trabalho, não necessitando de um homem provedor, cuidador ou afim (não quero dizer que um homem com traço mais delicado não possa exercer este papel, tampouco que um homem com traço mais grosseiro não possa ser companheiro e delicado). 



O Brasil, dentro de sua rica complexidade e multiculturalidade, pode - e deve - apresentar estes dois modelos (dentre outros mais) de preferência feminina. 


Talvez a região, nível sócioeconômico, cultural, dentre outros critérios possam explicar melhor algumas coisas. Acredito que o gosto de algumas mulheres por homens com ombros largos pode advir dessa herança filogenética que inclina a mulher a ter atração por homens fortes que proporcionem segurança.





Aproveito este finalzinho de post para falar sobre as quase sempre más expectativas sobre NOSSOS CORPOS. 



Pesquisas como as de Fallon e Rozin (1985) e de Swami et al (2010) indicam uma grande diferença entre percepção (principalmente feminina) de corpo real e ideal. Mulheres possuem uma tendência a imaginar que o CORPO ATUAL é discrepante (maior) do CORPO IDEALIZADO como atraente. E esse corpo considerado atraente é, por sua vez, considerado maior que o corpo IDEAL



Ou seja, há um grande saldo da auto-percepção atual para o corpo "ideal". O engraçado é que na pesquisa de Fallon e Rozin (1985) os homens declararam que o corpo feminino ideal é maior do que elas relataram que os homens achavam que seria.



Ou seja: os dados nos levam a crer que existe uma cobrança que está indo de encontro à preferência do sexo oposto. Parece-me que a mídia e as revistas femininas buscam uma forma de beleza - a magreza por vezes excessiva - que na verdade não é desejada. As incidências de anorexia e bulimia, maiores em mulheres, podem ser sintomas dessa "ditadura da magreza".



Outro estudo interessante (Oehlhof, Musher-Eizemann, Neufeld & Hauser, 2009) nenhum dos homens pesquisados queria ser "menos musculoso". Mas grande maioria desejava ter um corpo mais musculoso do que tinha no momento.




CONCLUSÃO:

Muito além de qualquer tipo de inclinação/preferência do outro sexo, vivemos num mundo em  constante mudança. Ou seja, preferências atuais podem não ser as mesmas daqui a alguns anos ou décadas.

Mulheres que não se encaixam num estereótipo de beleza dominante, peço que não se acanhem: muitos homens também buscam características que ultrapassam uma bunda de "mulher fruta". O mesmo recado vale para o homem que não possui as características físicas socialmente desejadas pelas mulheres (como os ombros largos).

Homens podem gostar de magrinhas, gordinhas, medianas, loiras, negras, ruivas...
Mulheres podem gostar de barrigudos, sarados, baixinhos, altos, carequinhas (assim espero)...

Que tal investirmos em nossas características próprias e aceitarmos nossas peculiaridades ao invés de sofrermos sendo quem não somos? A auto-confiança também é um fator que pode ser atraente pra muita gente. Se não para todos. 



Para saber mais:

http://olharbeheca.blogspot.com.br/2010/02/analise-do-dia-bunda.html

Fallon, A. E.; Rozin, P. (1985). Sex differences in perceptions of desirable body shape. Journal of Abnormal Psychology, 94 (1), 102-105.

Swami, V. et al. (2010). The attractive female body weight and female body dissatisfaction in 26 countries across 10 world regions: results os the internacional body project I. Personality and Social Bulletin, 36 (3), 309-325.

Oehlhof, M. E. W.; Musher-Eizemann, D. R.; Neufeld, J. M.; Hauser, J. C. (2009). Self-objectification and ideal body shape for men and women. Body Image, 6, 308-310.

Legenbauer, T.; et al. (2009). Preference for attractiveness and thinness in a partner: Influence of internalization of the thin ideal and shape/weight dissatisfaction in heterosexual women, heterosexual men, lesbians, and gay men. Body Image, 6, 228-234.

DeBruine, L. M.; Jones, B. C.; Crawford, J. R.; Welling, L. L. M.; Little, A. C. (2009). The health of a nation predicts their mate preferences: cross-cultural variation in women’s preferences for masculinized male faces. Proceedings of the Royal Society, 2010.




sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Vamu brincáááááá?????

Vamuuuuu!!!!!!!!! \o/

Ahhhh... a infância! 


Etapa da vida marcada por inúmeros estresses devido a pesadelos baseados em contos macabros (muahahahahaha), pela ansiedade de que seja servido logo o almoço e então ter a permissão de sair na rua jogar aquele futebol maroto com os parceiros da vizinhança, pela depressão em ver aquele seu carrinho com a roda quebrada e receber um não de seus pais ao solicitar por um novo... Eta vida difícil!!!

Afff... que tédio, viu!!!

Esperaaaaa... eu tava só BRINCANDO, viu!!!


Deixe-me explicar... De fato, a infância envolve tais considerações que mencionei acima. Mas claro, não que isso mereça uma atenção para cuidado e acompanhamento profissional! Desde que NÃO sejam condições que afetam o desempenho social, que NÃO causam danos pessoais e/ou que NÃO persistam ou agravem por um período significativo (em torno de 6 meses, mais ou menos)... elas fazem parte do desenvolvimento do infante e exercem muita importância para sua maturação!

Pois bem... antes de continuarmos nossa conversa, gostaria que olhassem ao seguinte vídeo, que mostra um rápido trailer de um belíssimo documentário que acompanha o primeiro ano de vida de quatro crianças de diferentes culturas:


Ainda que acompanhar apenas o trailer não substitua a importância de assistir o documentário como um todo, já dá para ter uma breve noção de que as 4 crianças estão expostas às mais diferentes contingências - demarcadas pela sua limitação física, cultural e social. Estas condições ontogenéticas implicarão em adultos com diferentes habilidades... EIS O PODER DA INTERAÇÃO ORGANISMO-AMBIENTE!

Porém, outro ponto que é possível observar no trailer - e mais ainda no documentário - é um comportamento que, independentemente da cultura, está presente, sobretudo, no repertório infantil: O BRINCAR!!!

Ainda que a vida na sociedade urbana permita que a criança tenha acesso a brinquedos mais sofisticados, logo no início do trailer é possível ver duas crianças, pertencentes a uma tribo africana, moradora de uma longínqua aldeia, brincando com pedaços de madeira e plástico. Além do mais, o comportamento de brincar não exige necessariamente a utilização de um instrumento, como também pode estar envolvido a simulação de uma situação (faz-de-conta) ou, então, a imitação de movimentos.

Indo mais longe do que o vídeo pode elucidar, é possível destacar que o comportamento de brincar também é passível de observação em vários outros filhotes de mamíferos.

Estas informações fortalecem a compreensão de que há, no "brincar" uma raiz evolucionista.

No que tange a relação entre causas próximas e causas últimas, o comportamento de brincar possui um complexo nível de análise, haja vista que é algo pertinente à filogenia mas que encontra sua expressão na ontogenia.

GABRIEL, PAAAAAARE DE FICAR COMPLICANDO!!!

Calma... vou explicar! (oh gente estressada, viu!)

Trocando as palavras, o brincar em si é uma condição presente em todas as crianças no mundo inteiro. As formas de brincar vão depender muito das condições ambientais, isto é, das práticas culturais daquele lugar, bem como as disponibilidades de recursos ali presentes (ontogenia). 

Tudo isso, ao longo da evolução dos mamíferos - sobretudo em nossa linhagem primata - desempenhou um importante papel na evolução, haja vista que por meio da brincadeira o infante ensaia movimentos, simula situações, molda habilidades e resolve problemas, preparando assim um repertório de comportamentos a ser utilizado na vida adulta, auxiliando na identificação de situações de perigo e no enfrentamento de dificuldades (filogenia).

Melhor agora?

Siiiiiiiiiiimmmmmm!!!!!! =D

Ah... que bom!!!

E para que saiba um pouquinho mais sobre o assunto, é válido mencionar que diversas pesquisas demonstram que há diferenças de gênero no comportamento de brincar. Isto é, meninos e meninas costumam ter preferencias distintas quando vão brincar. Elas tendem a enfatizar brincadeiras de cooperação entre companheiros e preferem brincar em grupos pequenos, enquanto eles buscam mais brincadeiras que estabelecem hierarquias e interagem com mais facilidade em grupos maiores.

No faz-de-conta, o tema preferido dos meninos sempre recorre a questões fantásticas e que explorem o vigor físico (como lutas ou encenando um super-herói) em detrimento das meninas que exploram histórias de modo mais sofisticado e cheio de detalhes, como temas dramáticos ou domésticos.

Esta dimensão, ainda que tenha todo um incentivo social que reforçam esteriótipos de o que é coisa de menino e de menina, pode também estar dando pistas acerca da concepção do que espera-se que tais gêneros desempenhem na vida adulta, dada as características necessárias para o convívio adulto de homens e mulheres e seu papel na organização social ao longo da evolução.

Além do mais, brincar é muito divertido, auxilia no desenvolvimento psicomotor, psicossocial e psicoafetivo, contribui para a saúde, para um melhor desempenho cognitivo... enfim, BRINCAR É TUDO DE BOM!!!

E para finalizar, vou deixar aqui meu feliz dia das crianças PARA TODOS NÓS!!! 

Isso mesmo, TODOS NÓS!!! Mas se você acha que já não se enquadra mais dentre as pessoas cujo felicitei com meus votos, SUGIRO UMA RÁPIDA AUDIÇÃO DA SEGUINTE MÚSICA:





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Pessoal, para esse post utilizei-me de informações (artigos) disponibilizados pelo site do NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM DESENVOLVIMENTO INFANTIL (NEPeDI)
Recomendo que visitem o site (clicando no link acima), caso queiram se aprofundar mais no assunto.